«A escrita ajudou-me a perceber que esta perda fez nascer muita coisa em mim, um processo de transformação que se iniciou, um processo muito difícil que faz parte de mim, que fará sempre parte de mim, mas com que estou a aprender a lidar». A confissão é de Joana Costa e foi feita na apresentação de “A Pequena Bolota Que Não Germinava”, sexta-feira (20), no Centro Cultural de Celorico de Basto.
A obra em causa, que nasceu de uma experiência pessoal sobre perda gestacional, ajudou, assim, a autora «a dar sentido a uma experiência difícil», no fundo, «ao vazio que fica».
Joana Costa, hoje uma jovem psicóloga a exercer em Celorico de Basto, reviu-se nas árvores «que também passam por muitas tempestades» e cujas «raízes fortes e a flexibilidade as ajudam a suportar» as dificuldades da existência.
A escrita de um livro infantil – disse – foi a forma de explicar aos sobrinhos a perda do bebé, bem como a sua dor. «Quando soube que estava grávida, comecei por escrever um pequeno livro em que relatava as minhas experiências; quando percebi que o bebé já não crescia, que o seu coração já tinha parado, foi um momento muito difícil para mim», partilhou.
A autora enquadra, assim, a obra escrita como resultado da dificuldade de explicar a perda aos sobrinhos. «Procurei livros infantis sobre perda gestacional, mas não encontrei muitas opções; a que encontrei não considerei ser a forma ideal de lhes dizer, devido à idade; por isso, fomos explicando de outra forma, mais simples e com recurso à natureza, por ser uma temática com que estão familiarizados; foi aí que começou a ideia…», contou.
A decisão de publicar foi mais tardia, quando sentiu necessidade de tornar aquela dor mais pública. «Senti necessidade de partilhar o meu processo de luto, para que não esqueça o meu bebé».
No contexto profissional, Joana Costa diz ter percebido que havia muitas mulheres a passar por situações semelhantes, bem como crianças em processo de luto por diversos tipos de perda.
Mais uma vez – reconheceu – os livros infantis foram a forma de mostrar que «a vida não é sempre feliz e que os contextos menos agradáveis fazem parte dela». Esses lutos – disse – são muitas vezes vividos de forma solitária pelas famílias, até porque estamos perante lutos em muitos casos desvalorizado pela sociedade.
A abordagem feita por Joana Costa às razões da sua estreia na escrita deixou emocionado o público presente no auditório. «A perda gestacional é uma perda difícil de lidar», concluiu.
Para o presidente da câmara celoricense, presente na sessão, a obra — disponível para venda junto da autora e nos locais habituais – mostra-se «uma excelente forma de partilhar o conhecimento, criatividade, inspiração, transformação pessoal, experiências marcantes e únicas, a arte de transformar em palavras as emoções, criando empatia e compreensão».
Assumindo que «tais experiências servem para nos orientar», sublinhou Peixoto Lima a importância do trabalho de Joana Costa, que assim «fez de uma experiência marcante um momento de sabedoria para si, mas sobretudo para quem lê a obra, carregada de emoção e simbolismo».
A escritora foi nesta sessão apresentada por Luís Moura, que a caracterizou como «alguém que toca no coração de quem a rodeia, num exemplo de superação, alegria e resiliência, em que o amor salva».
A apresentação da obra contou ainda com um momento musical dos “Ritmia”, que interpretaram “Que o amor te salve nesta noite escura”, de Pedro Abrunhosa e Sara Correia, e “Tu és a estrela”, de Carminho. Foram ainda lidos por Tânia Magalhães dois textos de Joana Costa. [Redação].