«Olhemos uns pelos outros». Este é um pedido natalício do bispo das Forças Armadas. D. Sérgio Dinis – natural de Ermelo, em Mondim de Basto – assumiu no início deste ano o Ordinariato Castrense, designação para a presença da Igreja Católica junto dos militares. É ele o entrevistado do Terras de Basto nesta edição a caminho do Natal. «Na nossa vida de serviço há quem carregue lutas silenciosas e pobreza escondida. Cuidemos do outro que vive ao nosso lado. Uma palavra, um gesto, uma ajuda pode ser luz para alguém», diz.
De trato simples e reconhecidamente prestável – o que reverenciamos – destaca-se pela capacidade de conciliar a dimensão espiritual com a compreensão prática das exigências quotidianas das Forças Armadas e de Segurança. O seu perfil combina sensibilidade pastoral, atenção às fragilidades humanas e uma visão clara do papel da Igreja num universo hierarquizado.
Para o prelado – nascido em Campanhó e com escola feita entre o Varzigueto e o Ermelo – «a guerra é sempre uma derrota da humanidade», mas a paz «não é mera ausência de conflito; é fruto da justiça, da verdade e do respeito pela pessoa».
Por João Paulo Mesquita
P. D. Sérgio Dinis, que trajeto faz um jovem do Ermelo até ao bispado e daí à tutela do Ordinariato Castrense? Pode falar-me das suas origens em Mondim de Basto e do seu percurso académico e eclesial?
R. Nasci no ano de 1970, mais concretamente no mês de maio. Nasci na aldeia de Campanhó, em Mondim de Basto. O meu pai, natural da freguesia de Ermelo e tendo vivido a sua infância e juventude na aldeia de Varzigueto, registou-me como natural de Ermelo. Com 11 meses de idade, fui viver para a casa florestal de Arjuiz, na freguesia de Ermelo, onde cresci até os seis anos de idade, junto dos meus pais. Quando chegou a altura de frequentar a primeira classe, hoje o primeiro ano, fui para Varzigueto, para casa dos meus avós paternos. No segundo, terceiro e quarto anos, voltei a viver com os meus pais em Arjuiz e passei a frequentar a escola primária em Ermelo, percorrendo diariamente cinco quilómetros em cada sentido.
Quando terminei a escola primária, que agora se diz primeiro ciclo, o meu pai procurou informações na escola EB 2,3 e Secundária de Mondim sobre a possibilidade de eu aí estudar. Nessa época, a câmara municipal ainda não tinha organizado os transportes escolares, para ir a Arjuiz buscar um só aluno. O autocarro da “Auto-Mondinense”, que passava junto à casa florestal e fazia a ligação entre Mondim de Basto e a Campeã, não tinha horários compatíveis com a escola.
Foi então que, por intermédio de um primo, salesiano, fui estudar para Poiares da Régua, no seminário, onde frequentei o quinto e o sexto anos. A continuidade dos estudos nos salesianos obrigava a deslocar-me para Mogofores, concelho de Anadia, o que fiz nos sétimo, oitavo e nono anos. Mantive-me como seminarista dos salesianos até ao décimo ano, já num colégio da mesma congregação no Porto. No décimo ano, resolvi sair, pois não sentia vocação para o sacerdócio.
No décimo primeiro ano, continuei como aluno dos salesianos, mas já não como seminarista. O décimo segundo ano frequentei-o no Liceu Camilo Castelo Branco, em Vila Real. Foi ao terminar o décimo segundo ano que a minha vida sofreu uma reviravolta. Depois de ter abandonado o seminário, senti que talvez Deus me chamasse a ser padre. Foi então que bati à porta do Seminário de Vila Real e fui acolhido pelo seu reitor, também ele um mondinense, natural de Atei, Monsenhor José da Costa Celas.
Os seminaristas maiores da Diocese de Vila Real estudavam — como ainda hoje estudam — no Porto, frequentando o Seminário Maior do Porto e a Faculdade de Teologia da Universidade Católica. Durante cinco anos, talvez os cinco anos mais belos da minha vida, recebi a formação do Seminário Maior do Porto e a formação teológica na Universidade Católica. Terminados os estudos, a licenciatura, regressei a Vila Real. Tinha apenas 23 anos e tive de aguardar um ano até me ordenar sacerdote, já que a idade mínima para ser ordenado presbítero é de 24 anos.
Entretanto, fui nomeado secretário do Bispo D. Joaquim Gonçalves e responsável pela pastoral da juventude na diocese. Quando me ordenei sacerdote, fui também nomeado capelão das “Florinhas da Neve”, instituição que acolhe meninas de famílias em dificuldades e que hoje se encontra integrada na Misericórdia de Vila Real. Mais tarde, em 1996, fui nomeado pároco de Murça, acumulando também a responsabilidade pelas paróquias de Fiolhoso, no mesmo concelho, e a do Pópulo, no concelho de Alijó.
Ao longo da minha vida, procurei sempre estudar com o intuito de me manter atualizado. Cerca de dez anos após a minha ordenação, uma vez que a minha licenciatura ainda era anterior ao processo de Bolonha, regressei à Universidade, Faculdade de Teologia no Porto, para fazer um mestrado em Antropologia Teológica. Em 2011, com o consentimento do Bispo D. Amândio Tomás, iniciei uma nova licenciatura em Direito Canónico, na Universidade Pontifícia de Salamanca. Após concluir a minha formação em Direito Canónico, para além de continuar como pároco, assumi também responsabilidades no Tribunal Interdiocesano Vilarealense, um tribunal eclesiástico que serve as dioceses de Vila Real, Lamego e Bragança.
Já antes da doença do meu pai, tinha solicitado ao então bispo de Vila Real, D. António Augusto Azevedo, que me transferisse de paróquias, para estar mais próximo dos meus pais, uma vez que já exercia o ministério de pároco há 28 anos por terras de Murça.
Praticamente um ano após o falecimento do meu pai, fui chamado à Nunciatura Apostólica, em Lisboa, onde me informaram de que tinha sido escolhido pelo Papa Francisco para Bispo do Ordinariato Castrense de Portugal, Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança.
Portanto, nada fiz de especial para me tornar bispo. Foi um trajeto simples, como o de qualquer outro sacerdote, e nunca tive como aspiração tornar-me bispo. Procurei sempre exercer o ministério sacerdotal como presbítero, com total dedicação a todos aqueles a quem Deus, ao longo do tempo, me foi confiando.
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