Apesar de alegar que a exposição ao amianto por ingestão não acarreta risco para a saúde, a presidência da Câmara de Cabeceiras de Basto diz que tem vindo a substituir progressivamente, nos últimos anos, as condutas da rede de abastecimento de água em fibrocimento.
Esta é reação de Francisco Teixeira Alves à peça jornalística que fez o primeiro destaque de capa da última edição impressa do Terras de Basto, de acordo com a qual “Há cabeceirenses a consumir água de condutas com amianto cancerígeno”.
Em «esclarecimento» nas suas redes sociais, o autarca explica que a substituição das condutas em fibrocimento, que contêm fibras de amianto, tem vindo a ser feita no âmbito da renovação das redes de abastecimento de água, sendo substituídas as condutas mais antigas por outras em policloreto de vinilo (pvc) ou tubo de polietileno de alta densidade (pead).
Embora sem fornecer dados exatos sobre a parte da rede de abastecimento de água em fibrocimento, a presidência da Câmara alega ainda que, «neste momento, são muito residuais as condutas em amianto».
Este assunto – recorde-se – voltou à colação na última reunião do executivo municipal, quando o seu presidente repetiu que não tinham sido ainda substituídas todas as condutas de fibrocimento referenciadas na rede pública de distribuição de água e que é intenção do município proceder à sua substituição, promessa em que foi secundado pelo seu vice-presidente, que, muito discretamente, tentou convencer a oposição de que a substituição «já estava em andamento».
A oposição, muito particularmente o líder do movimento de cidadãos “Independentes Por Cabeceiras”, não aceitou de ânimo leve o clássico “empurrar com a barriga” que caracteriza o líder do executivo, sendo perentório a condenar a lentidão com que o assunto está a ser encarado. «Se ainda tem algumas condutas [com amianto], rebente com elas!… Faça uma empreitada só para isso, mas rebente com elas», disse Jorge Machado, fazendo ouvir bem a sua voz.
Sem que tenha sido prestada grande informação – designadamente sobre as localidades e populações afetadas por esta circunstância –, a discussão evoluiu para a existência de um revestimento do teto interno de um edifício escolar do lugar da Ferreirinha, em Cavez, também ele com fibras de amianto.
No seu «esclarecimento» à notícia do Terras de Basto, a presidência da Câmara cita afirmações veiculadas pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, para alegar que «as condutas em fibrocimento com amianto já instaladas nas redes de distribuição não representam um risco para a saúde humana, não havendo necessidade de promover a sua substituição apenas por conterem amianto na sua composição», desde que a sua entidade gestora garanta «condições adequadas à sua utilização, manutenção e limpeza, por forma a prevenir ruturas».
Entre as controversas opiniões de que lança mão, a autarquia cabeceirense cita ainda a Unidade de Ar e Saúde Ocupacional do Departamento de Saúde Ambiental do Instituto Ricardo Serviço Nacional de Saúde Jorge, para reafirmar que «não existe risco para a saúde quando a exposição ao amianto ocorre por ingestão, já que a OMS não encontrou, até à data, evidência consistente de que o amianto seja perigoso quando ingerido, mas apenas quando inalado».
O amianto – tal como é referido na notícia divulgada em primeira instância pelo Terras de Basto – faz parte do grupo de minerais fibrosos amplamente utilizado em diversas indústrias devido às suas propriedades de isolamento e resistência. Existindo hoje a mesma argamassa sem amianto, o problema coloca-se com o fibrocimento antigo, que contém este mineral, sendo aí que a questão da saúde pública se coloca: o amianto é composto por fibras microscópicas que, quando inaladas, podem penetrar profundamente nos pulmões.
Estando embora identificada a inalação como a via mais perigosa, não tanto a ingestão, se estiverem degradadas, as tubagens vão libertando fibras para a água, que serão ingeridas, com todas as consequências que daí advêm.
Altamente resistentes à degradação no organismo, tais fibras podem causar, por exemplo, a fibrose pulmonar grave (asbestose), o mesotelioma – um tipo raro e agressivo de cancro que afeta o revestimento dos pulmões, abdómen ou coração –, o cancro do pulmão e outras doenças pulmonares.
Alguns estudos sugerem que o consumo prolongado de água contaminada com fibras de amianto pode estar associado a cancros gastrointestinais (estômago, esófago, cólon), embora a evidência científica seja menos conclusiva do que para os riscos respiratório.
Com o envelhecimento, geralmente acima de 30/40 anos de uso, as condutas de fibrocimento ficam frágeis e quebradiças, libertando mais fibras para a água ou para o ambiente (em caso de rotura, manutenção, perfurações).
Em vários países, o uso de amianto foi banido ou severamente restrito e existe uma pressão crescente para a substituição de condutas antigas de fibrocimento-amianto por materiais mais seguros (como PVC, PEAD, aço inox, etc).
Na sua reação pública à notícia da discussão havida em sede de reunião da Câmara, a presidência do executivo vem dizer que «lamenta e condena veementemente a divulgação de notícias alarmistas e infundadas, que apenas servem para provocar desinformação». [JPM].
Nota – Para mais informação: https://sosamianto.pt/o-que-e-o-amianto/