Quinta-feira, Maio 15, 2025
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Antigos alunos do Colégio de Refojos foram conhecer capela da Casa da Taipa

A capela da Casa da Taipa, em São Nicolau, Cabeceiras de Basto, «notável exemplar do património arquitetónico e cultural da região», foi o epicentro de mais uma “Pegada Cultural” promovida pela Associação de Antigos Alunos do Colégio de Refojos.

Mandada construir em 1554 por António Pereira, Senhor de Basto, a capela destaca-se pela sua planta em cruz grega, uma característica rara em Portugal. A construção foi financiada com recursos provenientes do Oriente, enviados ao seu herdeiro Ruy Vaz Pereira – foi então explicado por Olga Sequeira, historiadora e membros dos órgãos dirigentes desta estrutura associativa.

O enquadramento histórico da visita começou mesmo pela Casa da Taipa, a que pertence a capela, hoje propriedade de Manuel Fraga, que apresenta elementos arquitetónicos medievais, como uma janela com a pedra de armas da família Pereira – de Nun’Álvares Pereira – e uma porta com lintel interrompido. A propriedade inclui ainda um espigueiro de madeira sobre pés de granito, de planta alongada, evidenciando a importância agrícola da quinta.

Quanto aos elementos medievais, foi referida como origem do atual edificado a existência de uma torre, designada «fortaleza da Taypa», tendo Olga Sequeira citado informação apresentada por Pedro Vilas-Boas Tavares no 4.º Congresso Internacional “Casa nobre: um património para o futuro”, em Arcos de Valdevez: «Uma testemunha juridicamente qualificada refere-se ao que ouviu a João Rebelo Leite, “criado” de António Pereira. Pelos vistos, o Senhor de Basto explicava a João Rebelo que no passado “aquella torre das ameas estava ally sso sem outras cassas, sendo aquyllo monte, e que nesta tinha janelas, so hũa porta darquo e hũas sseteyras”.

De acordo com o mesmo documento, a “fortalleza” era rodeada por «hũa cova antes de chegar à porta da torre” e que “muitos moradores” do concelho pagavam àquela torre “os foros que se paguão à coroa”, e isto porque – afirmavam senhor e “criado” – os infanções tinham sido “quem a prymeiro abitara e ssetuara” e quem “os defendia e emparava dos assaltos das guerras”.

À colação foi trazida, na circunstância, a lenda cabeceirense de D. Comba, fidalga conhecida pela sua crueldade, que, segundo a tradição oral, teria transformado a igreja do Mosteiro de Refojos numa estrebaria, entrando montada a cavalo e acompanhada pelos seus criados. Conta-se hoje que a sua alma penada vagueia pela propriedade, sendo avistada como uma luz que, à sexta-feira, desce a colina, circula a capela e desaparece quando alguém se aproxima.

A par da Casa da Taipa, aos participantes nesta “Pegada Cultural” – cerca de meia centena de antigos alunos do colégio cabeceirense – foi possível avistar outras casas solarengas de São Nicolau, como a Casa da Breia.

Antes do almoço-convívio – na adega regional “Nariz do Mundo” –, o passeio cultural passou ainda pela Casa da Lã, onde a comitiva foi recebida pelas “Mulheres de Bucos”, que explicaram o velho processo de utilização daquele produto natural na confecção de vestuário e artefactos domésticos.

Dedicado à preservação e valorização das técnicas tradicionais de trabalho da lã, este núcleo do Museu das Terras de Basto está instalado numa antiga escola primária da aldeia de Bucos, espaço que funciona como centro de interpretação e produção artesanal.

Conforme foi então explicado pela técnica Benta Pacheco, todas as quintas-feiras à tarde, o grupo de mulheres da comunidade — conhecidas como as “Mulheres de Bucos” — se reúne para partilhar saberes e dar continuidade ao ciclo completo da lã: lavar, secar, esguedelhar, cardar, emanelar, fiar, ensarilhar, dobar, encher canelas, tecer e tricotar. Este processo é realizado com técnicas ancestrais, utilizando teares manuais e ferramentas tradicionais.

A comitiva teve ainda oportunidade de visitar o “Espigueiro de Carrazedo”, considerado o maior espigueiro de Portugal. Construído em 1853, a impressionante estrutura mede 29,40 metros de comprimento e está dividida em 11 “ternos” (compartimentos) irregulares, sendo quatro maiores e sete mais pequenos). Assenta sobre 12 pés singelos, possui ripado vertical e um telhado de duas águas, com capacidade para armazenar cerca de 30 carros de milho.

Os espigueiros, também conhecidos como canastros, são construções tradicionais do noroeste da Península Ibérica utilizadas para armazenar e secar espigas de milho, protegendo-as da humidade e de animais. São geralmente construídos em pedra ou em pedra e madeira, com fissuras laterais que permitem a circulação do ar.

A aldeia de Carrazedo, onde se encontra este espigueiro, é uma localidade serrana que preserva um núcleo de casas com traça original. Em 1938, esteve perto de ganhar o Galo de Prata no concurso da “Aldeia mais portuguesa de Portugal”. [JPM].

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