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Socialistas de Cabeceiras reconfiguram-se à margem do histórico Joaquim Barreto

Por João Paulo Mesquita, CP4625

Foi «uma razia completa» aquela que os socialistas de Cabeceiras de Basto fizeram agora na sua composição dirigente, precisamente na estrutura que há-de oficializar dentro de pouco tempo os seus candidatos à câmara municipal e às diversas autarquias do município.

Notoriamente, Fernando Basto – que liderou a única lista candidata à comissão política concelhia do PS – quis cortar o cordão umbilical com o histórico Joaquim Barreto, afastando-o de qualquer órgão partidário, mas afastando também todo e qualquer militante mais identificado com o antigo líder.

Às pretensões de Basto juntou-se igualmente Francisco Teixeira Alves, o atual presidente da câmara, que, tendo embora assento por inerência nos trabalhos da concelhia, quis integrar a comissão política como efetivo, ao lado do seu vereador e recandidato à liderança partidária.

Entre outras comunhões, Basto e Teixeira Alves – comentam alguns militantes, que pedem o anonimato «por razões óbvias» — têm a vontade de fazer regressar ao seio socialista alguns ex-militantes saídos para a formação do movimento de cidadãos “Independentes Por Cabeceiras”, designadamente o seu líder de sempre, Jorge Machado, o seu segundo vereador, Hélder Vaz, e alguns presidentes de junta em fim de linha, como é o caso de Paulo Guerra, de Cavez, ou Luís Mouta, de Pedraça.

A ideia – dizem – é aproveitar «o ponto mais baixo da dinâmica política» do IPC e convencer o ex-socialista Jorge Machado a desistir de mais uma candidatura autónoma nas eleições autárquicas do próximo ano.

Para que tal seja possível e para que os interesses partidários de Fernando Basto não fiquem obstruídos – o atual PS prepara-se para propor Francisco Alves como recandidato, cabendo a Basto o segundo lugar da lista camarária e ficando o terceiro para a obrigatória quota feminina – o efetivo líder do IPC poderá vir, em situação de fusão de interesses, a assumir a candidatura socialista à assembleia municipal, lugar que fica vago pela anunciada saída de Joaquim Barreto, que disso deu conta pública há alguns meses.

Este cenário – passível de falência quando surgirem os resultados dos habituais estudos de opinião que o partido costuma providenciar, para aferir mais tecnicamente o “estado da nação” e equacionar a escolha dos seus candidatos autárquicos – está a deixar «profundamente zangado» o histórico Joaquim Barreto, desde logo porque prepara, mais ou menos oficialmente, como dissemos, o regresso de algumas pessoas que este considera terem causado «significativos prejuízos» aos interesses do Partido Socialista.

As fontes que aceitaram falar com o Terras de Basto lembram que Jorge Machado e Joaquim Barreto nutrem entre si «ódios políticos» fatais, mais do que suficientes para que obstaculizem mutuamente os respetivos interesses, o que levará sempre a que o ainda presidente da assembleia municipal faça «tudo o que tiver ao seu alcance» para impedir uma corrida conjunta entre socialistas e “independentes”, mormente sendo o fundador do IPC candidato ao lugar que deixa vago.

Refira-se que o Partido Socialista, em minoria com três vereadores, só tem gerido o executivo municipal no mandato em curso por óbvia deferência dos dois vereadores do IPC – Machado e Vaz – que, além dos orçamentos anuais, lhe têm votado favoravelmente os documentos fundamentais para o exercício.

Tal como então foi tornado público e nunca desmentido, no início deste mandato, socialistas e “independentes” ensaiaram já uma reconfiguração do executivo, o que não veio a acontecer por «manifesto receio» de Francisco Alves e Fernando Basto perante o próprio partido, onde o primeiro foi chamado para se explicar.

Foi então a pensar neste – e eventualmente noutros cenários – que, ao assumir uma recandidatura à liderança dos órgãos partidários nas eleições de 5 de julho passado, Fernando Basto desenhou a composição da atual comissão política exclusivamente «à sua imagem». Ou seja, reduziu aquele órgão em 10 elementos, passando a ter 63 nomes. E, numa verdadeira purga e manifesta luta contra o “complexo de édipo”, correu com todos e quantos poderiam ser identificados com o seu “pai” político Joaquim Barreto.

Neste contexto, Fernando Basto aproveitou mesmo as mais recentes palavras do histórico líder – que tentara uma última vez chamar a atenção para o estado em que se encontra o partido e a gestão municipal, ameaçando afastar-se do processo – para, pervertendo-as, mandar a sua filha e a filha do presidente da câmara, que agora gerem o jornal «de utilidade socialista» “Ecos de Basto”, titular em manchete que fora Joaquim Barreto quem decidira sair.

O que é certo é que 32 militantes que integravam a comissão política socialista deixaram de o fazer, uns por terem negado o convite que Basto lhes fez, outros por alegadamente não terem pago as quotas, outros simplesmente por não terem sido convidados.

E se saíram 32, também é certo que entraram 21. Duas dezenas de novos comissários – como pormenoriza uma das nossas fontes – com origens profissionais bem identificadas: quase todos colaboradores políticos da câmara municipal; técnicos e administrativos da Associação de Defesa dos Interesses de Basto (ADIB), liderada pela filha de Fernando Basto; técnicos e administrativos da cooperativa municipal “Basto Vida”, liderada pela mulher do presidente da câmara; e técnicos e administrativos da “Mútua de Basto”, presidida pelo próprio Basto.

«Dos funcionários da câmara municipal saíram três da comissão política e entraram 12, nove para lugares efetivos e três para suplentes; da presidência, só o chefe de gabinete é que não está lá… por ser próximo de Joaquim Barreto», sublinha uma das fontes desta conversa.

E entre os que ficaram de fora «do sistema», são vários os que saltam à vista, não só porque são nomes publicamente reconhecidos, mas também porque são consideradas mais-valias óbvias dos socialistas cabeceirenses. É o caso de Domingos Machado, atual líder do grupo socialista na assembleia municipal; Benvinda Magalhães, líder das “Mulheres Socialistas”; Cristina Leite (Alvite); Stela Monteiro, ex-vereadora; Francisco Freitas, quadro superior da autarquia e membro do secretariado; ou Joana Barbosa, também quadro superior da câmara.

Mas a lista de alguns dos que ficaram de fora, de entre os mais reconhecidos, continua: Gaspar Vieira de Castro, histórico militante e «pessoa de reconhecido valor»; Alfredo Magalhães, ex-vereador; Alexandre Alves Lopes, antigo presidente da Junta de Abadim; Adriano Pereira, presidente da Junta de Bucos; Manuel Carneiro, professor; Pedro Teixeira, de Outeiro; Manuela Brás, funcionária do Turismo, de Bucos; Zelino Magalhães, colaborador da autarquia e homem do desporto; e o ex-vereador de 1976, autarca de Abadim e de Refojos, António Pacheco.

«Tudo isto não augura nada de bom; as eleições estão à porta; as coisas já não estavam nada fáceis, mas com este afunilamento parece-me ainda mais difícil», conclui um dos vários militantes socialistas ouvidos pelo Terras de Basto. Ah, Nuno Almeida Barreto, filho do líder histórico, deixou-se ficar na comissão política, «para controlo de danos».  [JPM]

[Artigo publicado na edição impressa do Terras de Basto de 25 de julho de 2024].

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