Quase a concluírem-se dois anos após o incidente que lhe danificou gravemente a cantaria lateral, a Ponte Românica de Painzela, em Cabeceiras de Basto, continua sem quaisquer cuidados que lhe corrijam os danos causados.
Este facto desagrada a todos aqueles que lutam pela defesa do património, até porque estamos perante um «imóvel de interesse público», mas revela-se «incompreensível» para os autarcas locais e para os populares mais sensíveis, que não aceitam esta «incúria».
«Depois de em outubro do ano passado ter procedido à limpeza da ponte, parte dela coberta por vegetação, e de ter desassoreado parcialmente o rio nas suas imediações, mais nada aconteceu ali», conta ao Terras de Basto um autarca local, que pede para não ser identificado «por razões óbvias».
Dois anos depois de lhe ter sido derrubada parte substancial das pedras laterais – tanto de um lado, como do outro, consequência do despiste de um automóvel durante a noite de 21 de maio de 2023 – a reconstituição daquela obra de arte com particular interesse historico-cultural «sempre evoluiu de forma demorada», nada ali tendo acontecido no último meio ano.
Para aquela limpeza da vegetação espontânea, do lado jusante e do lado montante, assim como das margens, a autarquia contratou então uma empresa privada, a “Bosques Limpos”, de Chacim, Cabeceiras de Basto.
Nessa altura, respondendo a uma queixa da Assembleia da União de Freguesias, um técnico municipal – sim, um técnico municipal, não a câmara municipal – deu-lhe conta de que estava em curso a segunda fase dos trabalhos, que consistia na remoção de inertes do leito da ribeira na área próxima da ponte.
As restantes tarefas – respondia nessa altura o técnico municipal à autarquia local, que havia dado conta à câmara da sua apreensão com a demora na reconstrução do imóvel – seriam executadas «quando os materiais necessários estiverem disponíveis e a brigada de pedreiros operacional».
O chefe da divisão de obras municipais assumia não recomendar a execução desta reparação – alvo de um relatório da Unidade de Cultura da Comissão de Coordenação Regional – por empreitada, salvo se o fosse por empreiteiro especializado.
Não lhe fazendo referência, mas presumindo-se que os custos desta operação serão suportados pelo seguro da viatura ou pela própria condutora que causou os danos na ponte, o técnico em referência adianta que uma empresa especializada neste tipo de trabalhos – a cantaria em referência desta construção do século XV tem particularidades como os encaixes macho-fêmea – apresentaria «custos em conformidade com a especialização».
De acordo com o processo-base desta intervenção, todas as fases da obra, com a exceção da limpeza da vegetação espontânea, terão de ser acompanhadas pela Unidade de Cultura da CCDR-N, «o que também condicionará o tempo de execução», dizia-se.
A Ponte Românica de Painzela apresenta um tabuleiro em cavalete assente sobre três arcos, sendo o central de maior amplitude e neste momento só são visíveis dois arcos, defendendo populares ouvidos pelo Terras de Basto que «devia ser dada a dignidade original» ao imóvel, limpando completamente os arcos laterais completamente assoreados e reabilitando alguns componentes degradados do centro da ponte que mantém contacto com água, cujas pedras têm vindo a desaparecer.
Foi na defesa deste património que a Assembleia da União de Freguesias, numa tomada de posição a que se associou a Junta, manifestou preocupação com a situação da ponte. «Tratando-se de património classificado, temos consciência de que a reconstrução da ponte necessita do acompanhamento técnico por parte da Direção Regional de Cultura do Norte, para que sejam repostas as pedras laterais, que caíram à ribeira. No entanto, e como se passaram já quase 14 meses do sinistro, esta União de Freguesias tem sido confrontada com reclamações de fregueses que diariamente transitam naquela ponte, sobre os atrasos na reposição da cantaria, que levanta questões de segurança a quem diariamente transita naquela infraestrutura”, afirmava-se então na missiva enviada aos órgãos municipais.[TB].









