Sexta-feira, Maio 9, 2025
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Igreja quer vender Colégio de Refojos e Câmara quer comprar

A Arquidiocese de Braga está a vender património e uma das propriedades que pretende alienar é o que lhe resta do Mosteiro de Refojos, concretamente a ala norte deste histórico edifício, máxima referência do património edificado da vila de Cabeceiras de Basto.

Embora o gabinete do arcebispo se tenha recusado a prestar quaisquer informações sobre o assunto, a sua pretensão de vender aquele património foi confirmada esta quinta-feira (8) pela presidência da autarquia cabeceirense, que tornou pública uma nota depois de saber que o Terras de Basto procurava confirmar tal informação.

O quarteirão em referência, a que acrescem alguns espaços exteriores, bem no coração da vila, confunde-se com o designado Colégio de Cabeceiras de Basto, ou Externato de Refojos, estabelecimento de ensino com pergaminhos para lá das fronteiras das Terras de Basto, mas que que se limita agora ao ensino secundário (10.º, 11.º e 12.ºanos de escolaridade) e ensino profissional.

A vontade de alienar o edifício do Externato de Refojos terá sido abordada pelo arcebispo em recente reunião do Conselho Arquidiocesano para os Assuntos Económicos, órgão da arquidiocese responsável por assistir o arcebispo na administração dos bens da Igreja Arquidiocesana e das entidades a ela subordinadas.

Terá sido dada a conhecer também ao presidente da Câmara Municipal durante recente encontro com o bispo-auxiliar, Delfim Gomes, encontro agendado a pedido do autarca, alegadamente com a intenção de avaliar a possibilidade e as condições para a pretensa instalação de algumas unidades de formação de nível superior afetas aos politécnicos do Porto e de Bragança.

Na última sessão da Assembleia Municipal (30 de abril), o presidente da Câmara adiantou – ainda que “en passant” e de forma completamente vaga – que o Município tem já «protocolos assinados» com os politécnicos do Porto e Bragança para a sua instalação em Cabeceiras de Basto, faltando apenas «limar umas arestas» entre a arquidiocese e a direção do seu próprio colégio.

No caso do Politécnico de Bragança, a ideia é a de ministrar formação temporária em áreas como a da Agricultura e da Saúde, enquanto o homólogo do Porto, que neste processo se tem feito representar por um académico local, a área que pretende desenvolver respeita à segurança informática.

O Terras de Basto sabe que a CESPU – que tem as suas atividades concentradas nos polos académicos de Gandra (Paredes) e Famalicão, onde oferece uma vasta gama de cursos nas áreas da Saúde, incluindo licenciaturas, mestrados e cursos técnicos superiores profissionais – estava a negociar com representantes da arquidiocese a sua instalação no edifício do colégio cabeceirense, mas terá já comunicado a sua desistência deste projeto.

Colégio de Cabeceiras

fecha para sempre?

A eventual alienação deste quarteirão norte do Mosteiro de Refojos deverá significar o definitivo abandono da Igreja bracarense do estabelecimento de ensino ali instalado e, assim, o fim da história para Colégio de Cabeceiras de Basto.

O facto de não ter procedido à nomeação ou recondução da sua direção – ao contrário do que fez com o Colégio D. Diogo de Sousa, em Braga – pode ter sido já uma atitude enquadrada nesta vontade de vender o imóvel, que agora se confirma por iniciativa municipal.

Na nota tornada pública esta quinta-feira (8), a presidência da Câmara informa «que se encontram a decorrer diligências com a Arquidiocese de Braga» para a compra daquela ala norte, considerando que o negócio «permitirá garantir que o espaço permaneça ao serviço da população, no âmbito de projetos culturais, educativos e sociais».

Sem que tal assunto tenha sido alguma vez abordado em contexto de executivo municipal e sem qualquer informação quanto aos «projetos culturais, educativos e sociais» em referência, o anúncio destas «diligências» deixou preocupadas algumas das fontes contactadas por este jornal, que temem pelo eventualmente encerramento do Colégio de Refojos, desde logo porque à arquidiocese não interessa continuar a sua gestão, de saldos negativos, e a autarquia não tem competência para a sua gestão pedagógica.

O assunto, trazido à colação em contexto pré-eleitoral – o que deixa desconfiados os interlocutores deste jornal –, deverá ser abordado na reunião ordinária do executivo municipal que se realiza na tarde desta sexta-feira (9, 16h00).

Nacionalizado após a extinção das ordens religiosas em 1834, o Mosteiro de Refojos foi vendido a privados, entre eles a família do Barão de Basto, que em 1944 vendeu uma parte do edifício ao empresário local José Gonçalves Ferreira, fundador, a 29 de setembro, do Colégio de São Miguel de Refojos, que inicia o ano letivo de 1944/45 com cerca de cem alunos do ensino primário e liceal.

Em abril de 1959, a propriedade do colégio foi transferida para o Seminário Conciliar de Braga, entidade religiosa que ainda hoje é formalmente a sua proprietária em nome da arquidiocese.

Construído entre 1755 e 1766, este mosteiro beneditino é uma grandiosa construção barroca, com influências do arquiteto bracarense André Soares. Após a sua secularização, o edifício teve diversos usos, incluindo tribunal e repartições públicas. Atualmente, além de acolher o colégio, abriga também os Paços do Concelho.

O quarteirão referente aos serviços centrais do município foi adquirido para o efeito em 1842, na sequência de um processo de arrematação à Fazenda Pública Nacional, cuja escritura de venda foi formalizada em 1844 por José António Pereira Araújo Magalhães, então presidente da Câmara Municipal, a João António Fernandes e seus familiares.

«Este precedente histórico reforça o compromisso da autarquia com a preservação e valorização deste património local», diz agora a autarquia. [JPM].

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