Três dezenas de trabalhadores de Mondim de Basto – mulheres, na quase totalidade – ficaram agora desempregados em consequência do encerramento abrupto de uma fábrica de calçado instalada na zona industrial desta vila, confirmou fonte sindical ao Terras de Basto.
O encerramento da empresa “Pausa Colonial” – confirmado pelo Sindicato do Calçado, Malas e Afins, Componentes, Formas e Carteiras do Minho e Trás-os-Montes, sediado em Guimarães – efetivou-se segunda-feira (18).
«Sem que nada nos tenha sido dito antecipadamente, quando chegamos para trabalhar, na segunda-feira, deparámo-nos com a empresa praticamente vazia… Tinham retirado a maquinaria… Disseram-nos que a empresa ia declarar falência», contou a este jornal, sob anonimato, uma das trabalhadoras.
Aida Sá, coordenadora daquele sindicato, disse ao Terras de Basto ter tido conhecimento na segunda-feira do encerramento da fábrica e, embora não tenha aí delegado sindical, ficou estabelecida uma reunião com as trabalhadoras, para esta sexta-feira, ao início da tarde.
«A intenção é fazer o acompanhamento da situação, designadamente o processo de inscrição no Instituto de Emprego e Formação Profissional», disse, considerando que, em comparação com muitas outras situações, «este nem parece, desse ponto de vista, um processo muito complicado», uma vez que, entrando em insolvência, a empresa declara o óbvio apoio aos seus trabalhadores.
Município procura
minorar impacto
O Município de Mondim de Basto diz também ter tido conhecimento da situação do encerramento da “Pausa Colonial, L.da” na segunda-feira, «ao início da manhã, através da comunicação das colaboradoras que se depararam com a empresa encerrada».
Após conhecimento dos factos, o presidente da câmara deslocou-se às instalações da empresa, tendo sido recebido pelo empresário, conjuntamente com as colaboradoras.
«Pelo empresário – refere o chefe-de-gabinete de Bruno Ferreira, em nota enviada a este jornal – foi-nos dito, perante os presentes, que a empresa iria entrar num processo de insolvência e que a decisão era irreversível, sendo que se comprometia a assegurar todos os direitos às colaboradoras».
O presidente da câmara agendou, então, uma reunião com as colaboradoras para o início da tarde no auditório da Assembleia Municipal, com a presença dos seus serviços jurídicos, dos serviços da Divisão de Desenvolvimento Económico (Gabinete de Inserção Profissional) e da Unidade de Ação Social e Saúde.
«Foi possível realizar uma reunião conjunta, com a presença dos trabalhadores e dos responsáveis pela entidade empregadora, com o propósito de clarificar a situação relacionada com a relação laboral, com os direitos de cada trabalhadora e informação sobre os passos necessários à obtenção do subsídio de desemprego», explica o gabinete do autarca.
Embora não pormenorize, acrescenta que foi ainda disponibilizado o apoio da Unidade de Ação Social e Saúde «para situações de carácter social provenientes da nova situação económica e social de cada colaboradora e respetivas famílias».
«O Município está a desenvolver os esforços necessários para minorar o impacto negativo do encerramento da empresa», conclui a nota.
Em Mondim, desde 2018
A “Pausa Colonial, L.da” – cujo proprietário gere outra unidade do mesmo setor, considerada a “casa-mãe”, em Golães, Fafe – instalou-se na zona industrial de Mondim de Basto em meados de 2018, por intermediações da autarquia, então liderada por Humberto Cerqueira, que lhe disponibilizou as instalações.
A par da linha de produção, que arrancou com pouco mais de vinte colaboradores, a empresa ministrou então formação em “costura de calçado”, ação resultante da parceria com a autarquia e com a Academia de Design e Calçado (CFPIC).
Constituída há sete anos (setembro de 2017), com um capital social de 21.000,00 euros, esta empresa unipessoal tem a sua sede em Mondim de Basto e o seu CAE é o “calçado – fabricantes”.
De acordo com o Sindicato Nacional dos Profissionais da Indústria e Comércio do Calçado, Malas e Afins (SNPIC), a indústria do calçado em Portugal vive uma das suas crises mais graves em décadas. «Desde o início de 2024, mais de 25 empresas de calçado encerraram portas, e o número de falências subiu 513%, afetando principalmente pequenas e médias empresas que sempre foram a base do setor, particularmente nas regiões do Porto e Braga», afirma. [JPM; fotografias de CMMB].