Diminuir o sofrimento e garantir acesso a direitos fundamentais – como estar vivo, existir, ser livre – mas, acima de tudo, garantir a denúncia do que testemunha e que haja quem resista e desobedeça. São propósitos que Ana Paula Cruz assume enquanto trabalhadora humanitária.
Reconhecida ativista com missões em Lesbos e no Mar Mediterrâneo, a jovem médica celoricense, natural de Borba da Montanha, apresenta-se «feminista, “queer”, pela justiça social, com foco nas migrações, refúgio e descolonização».
A propósito de “folhas secas”, livro que ora apresentou em espaços independentes de Celorico e Cabeceiras de Basto, Lokas – como é conhecida – falou com o Terras de Basto. «A minha escrita vem, muitas vezes, dum lugar legítimo de raiva. Da mesma maneira que o meu trabalho enquanto ativista também vem desse lugar. Acho que só estranha quem está desatento ou acumulou demasiado privilégio, porque realmente não sentir raiva é privilégio», diz.
Lokas Cruz, que acha que a ligação entre colonização e capitalismo «nunca foi tão clara», mas que «também esse colapso é inevitável», diz também que o Mar Mediterrâneo «continuará a ser instrumentalizado enquanto não fizermos o processo de descolonização», que «em Portugal está longe de ser feito».
Feminista, garante que deixará de o ser «no dia em que não houver mais violência sobre mulheres e pessoas “queer”, (…) desigualdades de acesso a direitos fundamentais, disparidades salariais, objetificação dos nossos corpos, e por aí fora».
Sobre “flores secas” – apresentado como «coletânea de poemas e textos politico-poéticos» – observa a autora que este manifesto corresponde à ideia de «desinteletualizar a poesia, devolvê-la ao povo».
[Leia a entrevista na edição impressa do Terras de Basto]