Quinta-feira, Novembro 21, 2024
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Um cozinheiro “vegan” em Basto

Alimentação faz parte da sua filosofia de vida

A comida é apenas uma das expressões da filosofia de vida de Tiago Teixeira. Que se completa com uma espiritualidade em que sobressai o equilíbrio natural e o respeito por todas as espécies sem hierarquia. Tem andado por outros mundos e por outras cozinhas. A procura de um lugar calmo para viver trouxe-o para Basto. E assim temos um cozinheiro “vegan” ao nosso dispor.

Por João Paulo Mesquita

«Porque é que uns são animais e outros são comida?». A interrogação enquadra a filosofia de vida de Tiago Teixeira e marca a sua presença nas redes sociais, onde o Terras de Basto o descobriu como cozinheiro de comida “vegan”… em Celorico de Basto. Diz que tem origens portuenses e que se instalou em Santa Tecla com a mulher, Sofia Rodrigues, há pouco mais de um ano, em busca de «um local sossegado para viver». Agora que anda pela casa dos quarenta e acaba de ser pai de uma celoricense de gema, sabe-se promotor do vegetarianismo desde os tempos em que, jovem, fazia caminhadas com pessoas amigas. «Levava na lancheira comida feita por mim, de base vegetal… E as pessoas que iam comigo pediam-me para provar! E gostavam», conta.

Na verdade, a filosofia de vida de Tiago Teixeira não se fica pelas questões alimentares, antes se consubstancia numa evolução espiritual que não admite hierarquia moral entre espécies, «que têm todas o seu valor e um papel especial na dimensão terrestre».

Por este motivo – sustenta – os animais não têm de sofrer atrocidades para satisfazer a gula humana ou para perpetuar tradições cruéis que se tornam obsoletas no mundo evoluído e espiritual que estamos a criar. «Podemos viver perfeitamente através de uma alimentação vegetal, livre de crueldade e mais saudável», defende.

De vegetariano, evoluiu assim para “vegan”, movimento que, recusando qualquer alimento de origem animal, tem vindo a crescer, segundo os especialistas, de forma exponencial em diversos países, entre eles Portugal. Orgulhosos embora das suas raízes culturais e culinárias, os portugueses têm aderido ao veganismo, um crescimento visível no aumento da oferta e no surgimento do ativismo “vegan”.

«Numa altura em que o ser humano se preocupa cada vez mais com o bem-estar, com o ambiente e com os animais, surge a necessidade de desfazer os mitos que envolvem a comida “vegan”. Está nas mãos de cada um transformar o mundo, desde logo através de hábitos mais saudáveis e escolhas mais conscientes», enfatiza, na conversa com o Terras de Basto.

Um cozinheiro “vegan” nas Terras de Basto

Tiago Teixeira nunca frequentou formação em cozinha vegetariana e o ensinamento máximo que experimentou foi mesmo um curso para apanha de cogumelos silvestres, que lhe permite total à vontade no reconhecimento das espécies venenosas por entre a grande diversidade que a natureza nos oferece, por exemplo em Basto.

O autodidatismo e o contacto com cozinhas asiáticas, por força da vida que o tem levado para essas paragens, proporcionaram-lhe saber bastante para se assumir conhecedor da comida “vegan” e arriscar a sua confeção com segurança, saber e… «ao gosto do freguês».

Sem radicalismos, assenta as suas propostas numa cozinha de transição entre a tradicional portuguesa e a composição “vegan”, em que privilegia o uso de vegetais silvestres e, por exemplo, a substituição da transgénica soja por uma bolonhesa de lentilhas, rica em proteínas, ou por um tofu de grão-de-bico com arroz-de-tomate.

«Preparo refeições e produtos ricos em nutrientes, cores, texturas e sabores. A minha cozinha criativa inspira-se, de facto, na gastronomia portuguesa, embora registe influências de diversas partes da Ásia, com recurso a plantas e cogumelos selvagens e medicinais. O objetivo é preparar comida variada e saborosa, livre de crueldade, com respeito por todos os seres e pelo planeta», diz.

Queijos e cajuntos

Entre os alimentos que lhe são particularmente caros sobressaem os queijos de caju fumados, com fumo de nogueira, e os cajuntos, neologismo que criou para definir o «presunto de caju» a que a beterraba dá cor e que se apresentam como alternativa à carne curada.

Os queijos de caju, curados durante um mês, «com muito amor e paciência», são artesanais e fermentados de forma natural, sem qualquer tipo de conservante artificial. São «ricos em sabor», probióticos, e ricos em vitaminas B, B12, C, E, cálcio, ferro, zinco, magnésio, sódio e fósforo, com 0% de lactose ou de glúten.

Ainda quanto aos cajuntos, têm como ingrediente principal o caju e são ricos em probióticos «que beneficiam a nossa saúde». Tal como os queijos, também estes não possuem ingredientes geneticamente modificados, amidos, fécula de batata, nem óleos processados e «o seu delicioso sabor é acentuado pela cura», sendo – diz – «uma verdadeira iguaria para as papilas gustativas».

O queijo de caju roxo – explica – resulta da combinação de «várias técnicas antigas de fermentação natural, sendo um verdadeiro “boost” para o sistema imunitário, pois é rico em antioxidantes. Este superalimento – diz – é dos mais saudáveis e mais anti-inflamatórios que se pode encontrar. «É excelente para compor qualquer mesa, podendo ser utilizado em todos os pratos, conferindo-lhes um toque requintado e extremamente saboroso», considera.

Sem espaço próprio para servir refeições – para o que espera um dia destes encontrar parceiro –, Tiago Teixeira mostra a sua cozinha “vegan” no “instagram” (“greenheartcuisine”), a partir de onde podem ser feitas as encomendas, que entrega em sítios a combinar, ou também sob o formato de cozinheiro ao domicílio, que pode ser contratado para servir o jantar a um grupo de iniciantes vegetarianos ou aos participantes dum evento social. Está igualmente disponível para fazer aconselhamento alimentar ou orientar “workshops” sobre cozinha “vegan”.

E se um dia destes lhe apetecer experimentar um «húmus de grão-de-bico com beterraba e molho “green heart”, com crepes de cogumelos e um chá de hibisco», um «seitan de cogumelos e caju, com batata, alho e pimento, acompanhado por arroz preto selvagem e espinafres ao alhinho», um «estufado de lentilhas, cogumelos e tofu fumado em natas verdes, com patê de quinoa e tremoço e arroz branco», uns «cogumelos pleurotus panados, com feijão preto, courgette e batata assada, arroz de azeitonas e couve salteada ao alinho»…

…Ou «panados tofu de grão-de-bico (tofu birmanês) com migas e arroz de tomate», «rojões de Lions Mane (cogumelo medicinal) à alentejana», «lasanha com cogumelos e calêndulas selvagens», «bôla de cogumelos e espinafres» ou «bife de lentilhas com puré de grão-de-bico e couve-flor, a acompanhar com umbigo-de-vénus (selvagem medicinal) salteado»…

…Ou uma «mousse de chocolate de batata-doce», uma «tarte com fruta da época», um leite-creme ou um «bolo de banana com cobertura de cacau»… saiba que basta falar com o Tiago Teixeira (916 747 788).

Os cogumelos de Basto

«A utilização dos cogumelos selvagens na alimentação faz parte da nossa história. São consumidos desde tempos bem antepassados. E apanhar cogumelos é, por si só, um ato mágico, algo que nos reconecta com a nossa terra e com o momento presente. Podemos mesmo encará-lo como uma meditação ativa. Alguns dos cogumelos que tenho encontrado pelas Terras de Basto com propriedades gastronómicas são o “macrolepiota procera” (frade), “hydnum repandum” (pé-de-carneiro), “lactarius deliciosus” (sancha), “craterellus tubaeformis”, “cantharellus cibarius”, “boletus badius”, “boletus edulis”, “lepista nuda”, “fistula hepática” (língua-de-vaca) e “amanita caesare”».

https://www.facebook.com/greenheartcuisine

https://www.instagram.com/greenheartcuisine

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