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Primeiros peregrinos do caminho de León de Rosmithal já passaram pelas Terras de Basto

Passou este domingo (8) por Terras de Basto o primeiro grupo de peregrinos a fazer, de forma experimental, o Caminho Português de Santiago de Leon de Rosmithal, percurso que liga Freixo de Espada à Cinta a Braga.

O caminho, com uma extensão de 240 quilómetros, começou a ser percorrido por este grupo a 29 de setembro, em Freixo de Espada à Cinta, depois de se ter reunido na Póvoa de Lanhoso, tendo os peregrinos passado já por território de Torre de Moncorvo, Vila Flor, Mirandela, Murça, Vila Pouca de Aguiar e Ribeira de Pena, para se concluir esta terça-feira (8) em Braga.

A entrada nas Terras de Basto, naquela que era a conclusão da sexta etapa, aconteceu no sábado (5), pela vila de Cerva (Ribeira de Pena), cumprindo os peregrinos, no domingo (6), um percurso de 27 quilómetros, até à vila de Cabeceiras de Basto.

«Estávamos combinados para sair às 08h00, mas o dilúvio obrigou-nos a adiar a saída para as 9h45. Demos “corda aos sapatos” para compensar o tempo perdido. A passagem pelas aldeias de Formoselos e Agunchos não deixa ninguém indiferente, parece que recuamos no tempo. Depois descermos até à cota do rio Tâmega, onde atravessamos a ponte de Cavez, que impressionou Leon de Rosmithal pela sua magnificência», relatam num diário que mantêm nas redes sociais.

Lembram nesse relato que é em Cavez que termina Trás-os-Montes e começa o Minho e que foi também aí que atravessaram nova ponte medieval que a comitiva checa de Leon de Rosmithal «não soube o nome». «A partir daqui, subimos até à Vila de Cavez, pela “rua velha”, para seguirmos o destino de Arco de Baúlhe, mas antes atravessamos duas interessantes pontes que remetem para a ancestralidade deste caminho», contam ainda.

Depois de atravessar a Ponte do Caneiro, o grupo diz ter seguido viagem até ao Mosteiro de Refojos, onde tinha à espera o presidente da Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto.

No Arco de Baúlhe, referido nas crónicas da viagem de Leon de Rosmithal, os peregrinos foram recebidos na Ponte Velha pelo presidente da União de Freguesias de Arco de Baúlhe e Vila Nunes e por uma delegação local da Cruz Vermelha, que os acompanharam até ao edifício da autarquia local.

«Aqui, fomos presenteados com umas incríveis lembranças e o presidente da Junta saudou o grupo pela coragem e pelo que temos feito na divulgação deste itinerário jacobeu. Entretanto, um elemento da Delegação da Cruz Vermelha ofereceu uma t-shirt assinada pela direção», dizem.

Carimbadas as credenciais e feito um brinde com Vinho do Porto, a comitiva descerrou uma placa no exterior do edifício autárquico que assinala a passagem deste primeiro grupo pela vila arcuense. «Este calor humano foi a dose certa para enfrentarmos as adversidades que ainda temos pela frente», desabafavam.

Referindo-se já à oitava etapa – mais 27 quilómetros que haviam de ligar, esta segunda-feira (7), Cabeceiras de Basto a Vieira do Minho e Travassos (Póvoa de Lanhoso) – conta o grupo que «o dia acordou calmo e propício» para caminhar, mas isso foi “sol de pouca dura”. «Eram 08h00 e já estávamos em frente à estátua “O Basto” para a fotografia da praxe. Depois de termos passado a Raposeira, seguimos em direção a Painzela, sempre com indicadores da estrada medieval. Uma longa subida colocou-nos em Encosturas, já em Cabeceiras de Basto (São Nicolau)», relatam.

Apesar da chuva, dizem ter dado para «apreciar a beleza minhota, principalmente campos simetricamente divididos onde ainda se respira medievalidade». «Entramos na Freguesia de Bucos, com os seus característicos moinhos em cascata, e no cume do ribeiro ainda houve tempo para fotografar o local onde as senhoras de Bucos lavavam a lã», dão conta.

«A hospitalidade destas gentes é tanta que, sem o consentimento dos proprietários, utilizámos uma garagem para brindar com moscatel e comer uma banana. No final, os senhores quase vinham caminhar connosco, não fosse o avançar da idade. A meio da Reta de Casares, entrámos no concelho de Vieira do Minho, pelo lugar de Calvos, vila de Rossas, onde está o famoso pelourinho», dizem ainda, assim concluindo a sua passagem pelas Terras de Basto.

Tirar partido da memória

O Caminho de Santiago de León de Rosmithal corresponde ao relato de uma viagem feito por um nobre da Morávia, Leon de Rosmithal de Blatna, que viajou por diferentes partes da Europa na segunda metade do século XV. Este nobre documentou suas impressões e experiências durante uma peregrinação a Santiago de Compostela em 1465, deixando um testemunho valioso sobre as condições da época, as rotas de peregrinação e os costumes dos locais visitados.

Leon de Rosmithal foi acompanhado por um grupo de cavaleiros e nobres, o que reflete a importância e prestígio social da peregrinação a Santiago de Compostela na Idade Média, especialmente entre a nobreza europeia. A narrativa tem um caráter detalhado e descritivo, oferecendo uma visão privilegiada sobre a vida e a cultura medieval em diferentes regiões da Europa, como Espanha, França e Portugal.

Embora o principal objetivo fosse Santiago de Compostela, o relato também descreve a passagem por outras cidades importantes, mostrando como as rotas de peregrinação eram também momentos de intercâmbio cultural e comercial. A obra de León de Rosmithal destaca ainda as dificuldades e perigos enfrentados pelos peregrinos, como o clima adverso, a falta de recursos, e até ameaças de bandidos.

Recentemente, o Município da Póvoa de Lanhoso liderou a iniciativa para revitalizar o Caminho de Santiago de León de Rosmithal através da colaboração de 12 municípios, entre eles Ribeira de Pena e Cabeceiras de Basto, recuperação moderna do caminho que visa destacar o percurso que o nobre morávio percorreu e que havia sido esquecido ao longo dos séculos.

A recuperação deste caminho é uma tentativa de preservar a memória histórica da sua peregrinação e de promover o turismo cultural, seguindo os passos do nobre que viajou por diversas regiões da Europa até Compostela. Os municípios envolvidos nesta recuperação estão a trabalhar para marcar as rotas e promover eventos e infraestrutura que ajudem os peregrinos contemporâneos a seguir este antigo trajeto. [Redação].

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