Foi com um muito intencional aperto-de-mão que, mais do que a transmissão de poderes, se fez, esta terça-feira (13) à noite, a passagem de testemunho entre gerações na direção da Banda Cabeceirense, a mais antiga coletividade do concelho.
O gesto partiu do cessante José Manuel Silva – que trouxe a estrutura associativa até bom porto, depois de tempos atribulados – quando usava da palavra para se despedir com a afirmação de que a Banda Cabeceirense nada lhe deve. «Quem não se sentiria honrado» por presidir à tão vetusta entidade – interrogou-se.
Tomou então a iniciativa de chamar Luís Rodrigues, o jovem músico que ora assumiu a presidência, para lhe dar um apertado cumprimento, testemunhado por uma sala da Casa da Música, também ela cheia de gerações diferentes.
«Tudo tem um princípio e tudo tem um fim, mas a minha disponibilidade para trabalhar mantém-se», garantiu José Manuel Silva, que, há 25 anos ligado à instituição, assumiu hoje a presidência da Assembleia Geral.
Luís Rodrigues, engenheiro informático de profissão, começou por lembrar o seu despertar para a música e para a vida da Banda Cabeceirense, designadamente através do pai e do seu saxofone-soprano, tendo-se iniciado na escola da banda em 2008, «com o mestre Armindo Nunes».
Depois de recuar cem anos, aos tempos em que o bisavô integrava também a filarmónica, o novo presidente passou em relance outras «gerações de ouro», como as de António Mendes ou, mais recentemente, de Carlos Andrade, Elsa Alves ou Adriana Ferreira.
Tendo confessado que não se orgulha de ter saído da Banda Cabeceirense no contexto dos conflitos recentes, Luís Rodrigues deu então conta dos principais objetivos para o mandato que ora se inicia, designadamente a sustentação financeira da coletividade, desde logo através dos patrocínios empresariais e da angariação de associados.
Foi neste contexto que apresentou aos presentes a missão de cada um dos elementos da direção, que, além da angariação de fundos, se expande pela conquista de mercado, ou seja, participação em festividades, pela comunicação com os associados e com a comunidade, ou pela organização interna, dos fardamentos ao instrumental.
A par de Luís Rodrigues, foram chamados a tomar posse pelo cessante presidente da Assembleia Geral João Sérgio, os restantes membros da direção Henrique Carneiro (vice-presidente), Ramiro Marques (tesoureiro), Alexandra Mendes e Teresa Vidinha (secretárias), e os vogais Beatriz Marques, Liliana Freitas, Luís Freitas e Margarida Teixeira.
Além de José Manuel Silva, a Assembleia Geral tem João Sérgio como vice-presidente, Fàtima Carvalho como secretária e Isabel Teixeira como vogal.
Já o Conselho Fiscal, ele é presidido por um histórico da instituição – Baltazar Mendes –, que tem Miguel Gonzaga como vice-presidente e Marco Capelas como secretário.
Fundada em 1820, a Banda Cabeceirense é – conforme referido – a mais antiga das coletividades do concelho, tendo contribuído para a aprendizagem e divulgação musical nas Terras de Basto. Após um momento de inatividade, em 1986 um grupo de músicos e de ilustres cabeceirenses ligados ao desporto e à cultura, com a colaboração da Câmara Municipal, conseguiram fazer renascer a associação, tendo sido fundada então uma escola de música, dinamizada pelo pedagogo o contramestre Lourenço de Castro.
Em 1991, a direção, com o apoio e colaboração de alguns executantes, câmara municipal e outras individualidades do concelho, conseguiu angariar fundos para renovação do instrumental.
Em 1999, na sequência da grande afluência de jovens à sua escola, nasceu uma banda juvenil, composta por 40 executantes, que se apresentou em encontros e concertos inseridos nas atividades culturais concelhias.
Há quase 200 anos que esta banda participa nas maiores romarias do norte do país, festivais de bandas filarmónicas, concertos em teatros, desfiles e receções às mais altas individualidades do país. Já foi dirigida por maestros de renome, tais como Amílcar Cunha, Serafim Aguiar, Joaquim Peixoto, José Machado, Gil Lopes, Armindo Nunes ou Paulo Nunes, entre outros.
No seu historial destacam-se figuras marcantes como António Mendes, maestro cabeceirense que a autarquia homenageou e a quem erigiu um busto, instalado junto da Casa da Música, no Lugar das Pereiras, em Refojos, onde tem a sua sede.